UNIVERSAL SEM TOTALIDADE: ESSÊNCIA DA CIBERCULTURA
A cada minuto novos computadores são interligados a internet, novas informações são injetadas na rede, tornando o ciberespaço ainda mais universal. O universo da cibercultura não possui centro, nem linha diretriz. Aceita a todos, colocando em contato dois pontos quaisquer, seja qual for a diferença entre eles.
Isso não que dizer que a universalidade do ciberespaço é neutra, uma vez que, ela já tem – e terá mais ainda no futuro – imensas repercussões nas atividades econômicas, políticas e culturais dos povos.
Essa universalidade desprovida de significado central, é chamada por Lévy de “universal sem totalidade”; constitui a essência paradoxal da cibercultura.
A escrita e o universo totalizante
Para, realmente, entendermos as mudanças contemporâneas da civilização, faz-se necessário falar sobre a primeira grande transformação que permitiu o surgimento das mídias: a passagem das culturas da oralidade para as culturas da escrita. Assim, o ciberespaço tem um efeito tão radical sobre as comunicações de hoje, como teve, em seu tempo, a invenção da escrita.
MÍDIAS DE MASSA E TOTALIDADE
As mídias de massa dão continuidade à linguagem cultural do universo totalizante iniciado pela escrita. A mensagem midiática é composta de forma a encontrar o “denominador comum” mental de seus destinatários; tendo em vista o mínimo de suas capacidades interpretativas.
Lévy destaca uma semelhança entre as midias eletrônicas e impressa, a mensagem midiática não pode explorar o conceito particular no qual o destinatário evolui e negligenciar sua singularidade, seus links sociais, sua microcultura, sua situação específica em um momento dado.
É este dispositivo, ao mesmo tempo redutor e conquistador, que fabrica o “público” indiferenciado das mídias de “massa”.
Segundo Lévy, o rádio e televisão, possuem uma segunda tendência complementar à primeira. Elas frazem na sociedade uma espécie de macro-contexto flutuante, sem memória, em rápida evolução – o que se percebe, particularmente nas transmissões “ao vivo”.
A principal diferença entre o contexto midiático e o contexto oral é que os telespectadores, quando estão envolvidos por uma transmissão, numa são atores ativos, noutra, são sempre passivos.
O rádio e a televisão rompem com a pragmática da comunicação, pois, não permitem uma verdadeira reciprocidade, tampouco interações transversais entre participantes.
COMPLEXIDADE DOS MODOS DE TOTALIZAÇÃO
A luz do pensamento de Pierre Lévy, em todos os casos, a totalização ocorre. Cada um à sua maneira, os veículos de comunicação tentam recolocar no plano de realidade que inventam uma forma de coincidência com os seus públicos alvos.
O universal passou a ser uma espécie de “aqui e agora” virtual da humanidade.
Ainda que o universal e a totalização estejam desde sempre vinculados, sua conjunção emana tensões fortes, contradições dolorosas que as novas mídias polarizadas pelo ciberespaço, talvez, permitam desatar. Esse desligamento, de acordo a Lévy, não é, de forma alguma, garantido, nem automático.
Finalizando este tema, Lévy informa que o estudo das técnicas de comunicação propõe, e os humanos dispõem. São eles que decidem deliberadamente ou na semi-inconsciência dos efeitos coletivos do universo cultural que constroem juntos. Lévy conclui asseverando que “é preciso, ainda que tenham percebido a possibilidade de novas escolhas”.
Ora, a cybercultura, terceiro estágio da evolução, mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve a totalidade. Corresponde ao momento em que nossa espécie, com a planetarização econômica, com a densificação das redes de comunicação e transporte, tende a formar apenas uma comunidade mundial, mesmo que essa comunidade seja — e como é! — desigual e conflituosa. Única de seu gênero no reino animal, a humanidade reúne toda a sua espécie numa única sociedade.